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"De repente, de uma hora para outra começou a chover muito e sem parar "

Quem acompanha as postagens deste blog sabe que de forma direta ou indireta elas denunciam os efeitos devastadores e catastróficos das mudanças climáticas sobre as populações rurais,  em especial, as comunidades tradicionais  como meus pais.  Em três delas  registrei a angústia e preocupação do meu pai, meu irmão e moradores  do Distrito de Santa Clara do Monte Cristo, na fronteira com a Bolívia sobre a má distribuição da chuvas e as consequências  delas sobre a vida deles.

As postagens em questão, foram como uma espécie de "presságio" daquilo que viria a seguir na região sudoeste do Estado, em principalmente nos municípios de Porto Esperidião, Pontes e Lacerda e Vila Bela.  No final da 1ª quinzena de janeiro, a região foi afetada por fortes chuvas que rapidamente encheu rios, campos e cerrados. Os Rios transbordaram derrubando pontes, escolas  deixando  dezenas de famílias desabrigadas nestes municípios.

De acordo com informações divulgadas pela Secretaria de Cidades de MT em 24/01/2016, pelo menos 14 comunidades estavam 'ilhadas' após destruição de  8 pontes em Vila Bela e Pontes e Lacerda. As pontes de acesso a essas comunidades foram levadas pelas enchentes. Por causa disso, foi decretada a situação de emergência. Informações da Defesa civil do estado davam conta de que em Vila Bela, o número de famílias desabrigadas já chegavam a 37.  Muitos moradores "nativos" alegam que nunca viram uma enchente como essa na região.

Prefeitos dos municípios de Porto Esperidião, Pontes e Lacerda e Vila Bela calculavam que e até 27/01, cerca de 8 mil pessoas haviam sido afetadas pelas enchentes e os estragos era estimados se aproximavam de 7,4 milhões de reais. Para se ter uma ideia, até então, a informação era de que 14 pontes havia sido completamente destruídas  e outras 35 estavam danificadas. O Governador de MT equipes das Secretarias de infraestrutura, Cidades e Defesa Civil Estadual sobrevoaram a região visitando os atingidos para levar alimentos e águas aos desabrigados e avaliar os danos.

Ainda na terçã feira (27/01) minha irmã que reside em Santa Clara do Monte Cristo, me ligou preocupada com nossos pais.  Perguntou-me se sabia notícias deles, pois havia visto no Facebook vídeos e fotos sobre a situação na Gelba São Sebastião, da  qual o sítio dos meus pais faz parte. O vídeo e fotos mostravam o avanço das águas na região, bem como o rastro de destruição deixado. 
No dia seguinte, logo cedo liguei pra minha mãe para saber como estavam e principalmente para   dizer -lhe que achava prudente eles (meu pai e ela) ir para cidade e deixar apenas meu irmão. Pois, em caso de uma chuva repentina forte principalmente durante a noite seria perigoso, principalmente porque ficariam isolados  já que as estradas e pontes foram afetadas  com as ultimas chuvas.

Minha disse que "por enquanto ainda estava tranquilo" lá no sítio. Segundo ela, por incrível que pudesse parecer, apesar  do avanço das águas no São Sebastião, lá  no sítio ainda "não estava tão cheio",  "tá bem mais cheio que em outros anos, mas a água da lagoa ainda tá até bem longe da cerca." E tentou me tranquilizar dizendo, que meu irmão e meu tio naquela manhã havia ido campear" e teriam uma noção mais real da enchente.  

No entanto, disse que havia assistido no Jornal Nacional  e que  as imagens que viu a fez lembrar de uma enchente em 1980, quando ás águas chegaram a inundar a cozinha da casa da minha avó, mãe do meu pai. Lembrou que esta foi a única vez em mais de 50 anos que teve medo de "perder tudo". Ainda assim, segundo ela, não foi algo assim tão rápido. Segundo ela, naquele ano foi um longo período de chuva. Não foi como  estavam falando agora, que "de repente,  que "de uma hora para outra " começou a chover sem parar. Ela acha que o problema é esse, chover sem parar em alguns lugares, porque a água acumula e "vem com tudo", levando e derrubando tudo que encontra pela frente.

Bingo, exatamente isso, está mais do que provado cientificamente que eventos climáticos extremos
como enchentes, secas e nevascas sempre ocorreram de tempo em tempo e continuarão a ocorrer. A questão é que, com o aquecimento global acelerado, esses eventos acontecem com maior frequência e intensidade. A voracidade humana é tão grande que provocou um verdadeiro desarranjo climático, e os resultados são desastrosos e catastróficos para a população pobre.  Infelizmente, os maiores responsáveis pelo aquecimento global não são os primeiros a sofrer suas consequências. ao contrário continuam e ao que tudo indica continuarão sendo os últimos.

Enquanto milhares de pobres morrem ou perdem bens ou adoecem em virtude das mudanças climáticas, as grandes corporações, grandes empresas, grandes produtores de grãos, grandes pecuaristas , grandes mineradoras, grandes madeireiros continuam ilesos, poluindo e causando destruição mundo a fora a bel prazer. Quando muito são multados.

Ah, sim, até o presente momento (29/07) meus pais continuam no sitio. Esperamos que as chuvas dê uma trégua.
Fotos: 2, 3,4 -Walmir Toledo
Foto 1:  Governo de MT e Deputado Estadual Wancley

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