Apesar da degradação ambiental ocasionada pela pecuária, atualmente infelizmente, há que se reconhecer que ela também é a responsável pela sobrevivência e manutenção dessas famílias no campo. A criação de bovino, tornou-se praticamente a única alternativa aparentemente segura para estas famílias, pois necessita de pouco investimento financeiro e conhecimento técnico, supostamente, “boi e cavalo só precisa de pasto e água duas coisas que era de graça. Dentre as vantagens que as pastagens nativas tem sobre as plantadas referem-se ao fato de que elas (as nativas) se renovavam naturalmente com as chuvas. No entanto, para tanto era preciso impreterivelmente, "tocar fogo" no campo e no cerrado anualmente quando se aproximava o fim de cada período de seca.
Na semana passada, meu pai disse que pastagem nativa era "mil vezes" melhor que a pastagem plantada: "prá você vê... o pasto nativo renovava todo ano. Era só no finzinho da seca, final de setembro, por aí, tocar fogo no campo. Nessa época, o capim já tava seco e queimava rápido. Aí na primeira chuva, eles já tava tudo brotando de volta. Às vezes, nem precisava começar chover. Só com o sereno mesmo elas já começava a brotar de novo".
Quando falei com meus pais na semana passada, eles elencaram alguns tipos de gramíneas nativas utilizadas como pastagem e também aqueles que embora nativa não serviam, mas era utilizado para “encher colchões e para ninhos para galinhas” antigamente, e é claro, os capins artificiais, “plantadas” em substituição aos capins nativos.
Segundo meus pais, o capins nativos “davam” no cerrado ou do campo, todos se renovavam anualmente. Porém, a renovação anual, era preciso "tocar fogo" no cerrado ou no campo. Os “capins” nativos mais utilizados como pastagem eram conhecidos como Capim azul, Capim mimoso, Capim rabo de cavalo, Capim rabo de lobo. Estes eram capins nativos encontrados no campo onde ficava boa parte do ano alagado e que serviam de alimentação aos cavalos e ao gado, mas também a outros animais herbívoros.
Já o capim Membeca e o capim Carona eram encontrados em área alta onde havia mata, no cerrado. Embora nativo, "gado nem cavalo comia". Então, era utilizados principalmente para fazer nossos colchões e para ninhos para as aves domésticas.
Lembraram com um parente arrependimento que, os tais Capim gordura/capim manteiga, brachiara e humindícula, foram os “capins plantados” adotados por eles e muitas outras comunidades após a proibição das queimadas e os longos períodos de estiagem anual.
Ressaltaram que a opção por estas espécies foi o preço, e suposta facilidade de manejo e que isso foi a única opção para eles com o declínio das roças, uma vez que além da necessidade de alimentar "a criação", era preciso manter o gado relativamente gordo o ano inteiro em condições de fornecer leite e principalmente para vender e comprar parte dos produtos produtos alimentícios.
Lembrei-me que há algumas semanas atrás falei com meu irmão mais velho e ele relatou que “a coisa tá feia prá nóis”, sem chuva o pasto seca, não tem água e morre os bois. Quando voltou a chover “essa merda de pasto agora tá cheio de lagarta e cigarrinha”. Então, comentei com ele que antigamente não me lembrava destas pragas no pasto nos pastos nativos. Ele concordou, e disse que com o pasto plantado “agora tá todo ano”, mas este ano (2015) estava difícil, pois esta bem pior que nos anos anteriores. Resolvi certificar com meus pais sobre a infestação de lagartas e cigarrinhas no pasto nativo, e eles logo me interromperam: “não, não. Capim nativo não dá cigarrinha nem lagarta. Só nesses capins plantado. Só nesse pasto comprado”.
Perguntei-lhes, se eles tinham alguma ideia, do porquê de não haver estas pragas no pasto nativo e a resposta foi bem interessante. Eles o sabor do capim nativo e o fato da renovação anual através da queima anual do campo não possibilitava a proliferação das pragas. "o fogo era uma coisa boa. Não era assim como falam. No campo ele era rápido só tinha quase capim mesmo e no cerrado, as folhas das arvores tava seca no chão. Ele espalhava e queimava bem rápido. O fogo era uma coisa boa. E ele era importante para esses capim, tanto que depois que parou de queimar eles acabaram. Você não encontra mais nenhum deles. As vezes a gente ainda vê alguma moitinha de um ou de outro. Mas você que ele tá lutando prá sair no meio do morto. "
É claro que reconheço a importância e a necessidade do controle ou até a proibição das queimadas para o equilíbrio ambiental na maioria dos casos, mas isso não significa que eu não perceba os efeitos colaterais e desastrosos de tais medidas sobre as comunidades nativas/tradicionais. A alteração do regime de chuva e a proibição da queima foi determinante no sumiço das pastagens nativas. Sem pastagem nativa, não restou outra opção, se não a adoção das pastagens artificiais. Porém, sem orientação, conhecimento técnico e poder aquisitivo para o manejo adequado não é uma opção viável, principalmente financeiramente.
É óbvio que as pastagens artificiais tornaram-se a principal responsável pela ruína financeira das comunidades tradicionais, além é claro, de ser a principal responsável pela degradação ambiental resultante atividade produtiva praticada por estas comunidades.
Fotos: Deroní Mendes - Sítio dos meus pais em diferentes épocas do ano



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