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2016 - Entre saudades, blog, pequi, canjinquinha, emas, capins: "Cuidem-se um do outro, tá?"

Hoje (05/01/2016) falei com meus velhos, seu Germano e dona Ditinha ao telefone. Foi a primeira vez que consigo falar com os dois em 2016. Estão bem. Minha mãe colocou o celular no viva voz para que meu pai pudesse ouvir e melhor e também para que pudéssemos conversar nós três.  Dentre os assuntos que conversamos, falei sobre o  blog. Disse-lhes que estava com uma boa audiência. Que em um  mês, o blog alcançou quase  800 acessos e que são tantas as riquezas dos seus ensinamentos que ao escrever vão me voltando a mente. Mas que preciso reorganizá-los para escrever. E que preciso  ligar para ele mais vezes para conversarmos e eles me ajudarem, pois há coisas que não me lembro, ou não entendia. Mais uma vez, eles se emocionaram. disseram que se sentem muito feliz em poder contar para nós sobre a vida deles.
Sobre o que faziam. E que é bom saber que outras pessoas estão lendo e que isso vai poder ser lido pelos netos, bisnetos mesmo quando eles não estiverem por aqui. Aí fui eu quem me emocionei. Sei que a partida é inevitável. Ainda assim, não gosto do assunto. Isso me aflige. Me deixa sem chão. Culpada por estar longe e não poder usufruir do tempo que lhes resta. Que nos resta.

Mudamos de assunto, perguntei sobre o tempo, sobre as chuvas. Como está a vegetação (o que restou dos campos) agora cerrado. Disseram que ainda está chovendo pouco, mas que a vegetação já está "bem verdinha". As frutas do cerrado já estão quase todas amadurecendo.  E que os capins, agora que quase não tem campo, não é possível notá-los.

Nossa, isso mesmo, os capins nativos. Outro dia lembrei que precisava conversar com eles sobre os capins nativos e os plantados. Como eram? Para que serviam e onde nasciam. Essas coisas. "Ah, papai. Bem lembrado. Os capins. Queria queria que vocês falassem sobre s capins, principalmente os nativos. Mas também sobre os "plantados". Lembro que tinha uns capins que dava no campo e na época da seca tocava fogo no campo e logo depois ficava tudo "verdinho, verdinho".

Mesmo ao telefone pude sentir a alegria deles ao lembrar e pode poder compartilhar a experiência novamente. Elencaram os nomes e a "serventia" de cada capim. Depois farei um posts sobre eles, os capins. Mas por hora,  fico com a lembrança deles relatando com alegria o cerrado em festa. 

Relataram-me com riqueza de detalhe e muita alegria que este ano assim como nos anteriores, os pés de pequis estão "carregadinhos". Tem tanto pequi que os animais, aves e insetos não estão vencendo e que vez ou outra aparece alguém da cidade ou de comunidades vizinha para coletá-los ou meu irmão, Vadi e sua esposa levam pra cidade. 

Lembraram também, que apesar da falta de chuva em 2015, os pés de canjiquinha (murici) estão carregados de frutas, alguns ainda estão com flores ou com frutos muito "miudinhos", então provavelmente estarão maduros no final de fevereiro. Acredita que será possível extrair e conservar muita poupa para suco o ano inteiro.

Perguntei também sobre as emas, se ainda há muitas delas no fim de tarde a procura de bocaiuva. Eles
"Eles sabem que não vamos fazer mau nenhum por isso". Riram, pois segundo eles o bando continua crescendo. As vezes somem um pouco, pois há pouca bocaiuva. Mas estão sempre por lá, pois sabe que papai irá ajudá-las  a conseguir as bocaiuva:

Digo que preciso desligar e peço que eles se cuidem. "Seu Germaninho se cuida e toma conta da Dona Benedita aí, hein? Dona Benedita, se cuide e cuide do seu Germaninho... e se comporte , viu? Cuidem-se um do outro, viu?" brinco. E meu pai responde em tom de brincadeira, também: "eu tô bem. Não precisa se preocupar. Só que sua mãe não quer que eu cuide dela. Tá ela mesma querendo fazer as coisas dela prá lá".  Minha mãe ri e completa: " qual nenhum, Jormano (ri), já vem ocê com isso (e ri novamente.)...Ai, Deroní. Só você mesmo prá fazer eu ri logo cedo com suas brincadeira. aiai." Pronto. Meu dia será maravilhoso e ninguém irá estragá-lo. Não hoje. Ou pelo menos por hoje.

Muitas vezes, nossos pais e avós, outras pessoas idosas, só querem ser ouvidos. Compartilhar com a gente um pouco da sua vida. Daquilo que fazem ou fizeram. O que querem. Eles só precisam que nos importemos com eles. Só tenho a agradecer pelos pais maravilhosos e compreensivos que tenho. sinto muitas saudades deles e queria poder estar mais perto. Dar a Sofia e a eles um pouquinho de convivência familiar. Espero que suas vidas sejam prolongadas aqui na terra para que possamos usufruir da sabedoria, alegria, amor  e simplicidade deles.

Fotos: Deroní Mendes

Comentários

  1. Belo artigo... Parabéns!!! Devo restabelecer o meu Blog... rsrs... Grande abraço...

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  2. Olá Décio. Bom dia. Obrigada pela Visita e que bom que gostou. Fique a vontade para comentar, sugerir e até compartilhar se assim desejar.
    Reative o seu blog, já entrei nele algumas vezes.
    Abraço, Deroní Mendes

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