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Sementes hibridas X conhecimentos e saberes tradicionais: Uma disputa desigual

É inegável,  os "estragos" que a mecanização do campo, a falta de politica agrícola voltada para  atender as demandas da agricultura familiar , e principalmente a valorização dos saberes traicionais estão entre os principais fatores responsáveis pela desestruturação das comunidades tradicionais.

Confesso que, durante algum tempo questionei e até culpei meus pais por terem "abandonado" o cultivo das roças. Porém, o tempo, o estudo, os intercambio e vida se encarregou de mostra que eu estava equivocada.  As comunidades tradicionais , ao contrário daquilo que muito pregavam, não abandonaram o cultivo da terra porque simplesmente não queriam mais plantar ou orque estavam cansados.

Em um post anterior, falei sobre o impacto das sementes híbridas na agricultura familiar, porém, agora quero colocar outro elemento desestruturante, que é pouco levado em consideração  pelos estudos, o fator cultural, as crenças que envolve o processo de plantio, e colheita nessas comunidades. 

É preciso levar em conta que muitas comunidades, pediam permissão  ao rei/senhor ou espírito das florestas antes de "abrir uma roça". Elas  também, faziam novenas, orações e rezas para que o plantio e colheita fossem bem sucedido. Realizavam benzeções quando uma lavoura era atacada por algum tipo de praga.  Muitas comunidades faziam a "contagem de São salomão e Santa Luzia.  Então,  é preciso considerar  que, abandonar essas práticas também significa a desvalorização de tudo que acreditavam e faziam.  e isso deixa marcas. Marcas de dor. De desrespeito e humilhação.. 

É preciso reconhecer que, a transição da agricultura por paixão,crença  e obervação para a agricultura agricultura com dinheiro e racionalidade não foi pacifica. Houve sim um grande assédio moral sobre os agricultores para que adquirissem sementes hibridas, maquinas, e adotassem novas técnicas. Tudo isso com a promessa de se obter maior produção em menos tempo. Lembro-me que um agricultor de uma comunidade tradicional me disse durante uma entrevista para minha monografia.

Foto: Deroní Mendes - Depoimento do "seu"  Beto da Comunidade
Nossa Senhora da Guia,  em Cáceres -MT
 "...nóis foi enganado com semente hibras, mas não tinha outro jeito, porque era igual que nóis não era gente. Eles ficavam em cima. e também se agente usasse as sementes tradicional, nóis não achava comprador na cidade... E tinha veiz que muito dos nossos que tinha mudado, falava mal das semente tradicional e de como nóis plantava, falava que nóis era atrasado. Agora ispia uma coisa dessa. A senhora acha certo? Aquilo era muito sofrimento prá nóis...Muitos foi na onda e deu no que deu...isso que acabou com muitas comundiades daqui. Porque não deu certo as sementes hibras, e  acharam melhor vender a terra e ir prá cidade. E tão lá, na pirifiria, mais pobre do nóis que perisitimos aqui..."

Retomei o assunto com meu pai outro dia e ele relatou algo semelhante, finalizou dizendo que "o erro maior foi porque nóis não imaginava que  tinha que comprar semente todo ano...que  com as sementes nova, se não comprasse todo ano , a roça não ia prá frente nem com reza brava...ainda bem que nois demoremos pra mudar e logo vocêis todos foram prá cidade estudar e começaram trabalhar e se virar sozinho, se não, não sei se nóis ainda tava no sitio até hoje não." disse em tom descontraindo, mas com um visível sorriso triste.

Foto 1: disponível em: http://sossegodaflora.blogspot.com.br/2015/08/semiarido-600-bancos-de-sementes.html

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